Friday, June 15, 2007

Cabaré

Seda vermelha
Cigarros se acendem
Vícios e cenas
Entre baralhos e rendas

Perfume dramático
Da lua boêmia
A musa embriaga
Veia por veia

Desperta a fada
No fundo da taça
Verde e espumante
Salvando o poeta
Para logo matá-lo

O brilho da moeda
Risos e pressa
Despida por beijos
Jóias roubadas
E o livro se fecha

O cabelo preso
Deseja a liberdade
Que teme o peito
Amarrado à verdade
De um novo tempo

A mão desliza
Sobre a perna oferecida
Brinca nas fitas
Que se desfazem
Ao som da canção indiscreta

A única pureza que lhe resta
Está nos diamantes
O absinto na garganta
Queima a insignificante
E última quimera

Gargalhadas escandalosas
E ela sobe a escadaria
Antigos olhos inocentes
Gemidos da mercadoria
Um vazio estridente
O teatro do amor
Barato e descrente
Artisticamente sensual e sujo
Poeticamente tolo
Atuação de espíritos mudos

Lágrimas de vinho
Escorrem sobre ela
Com destino
Aos lábios bêbados
Do iludido

A luxúria veste-se
Com suspiros e ventos noturnos
E tudo dorme
Em êxtase versificado
O poeta morre

Enquanto sua musa
Escreve no céu
Com palavras de fumaça
A sátira pornô
“Do amor à carcaça”.