Cabaré
Seda vermelhaCigarros se acendem
Vícios e cenas
Entre baralhos e rendas
Perfume dramático
Da lua boêmia
A musa embriaga
Veia por veia
Desperta a fada
No fundo da taça
Verde e espumante
Salvando o poeta
Para logo matá-lo
O brilho da moeda
Risos e pressa
Despida por beijos
Jóias roubadas
E o livro se fecha
O cabelo preso
Deseja a liberdade
Que teme o peito
Amarrado à verdade
De um novo tempo
A mão desliza
Sobre a perna oferecida
Brinca nas fitas
Que se desfazem
Ao som da canção indiscreta
A única pureza que lhe resta
Está nos diamantes
O absinto na garganta
Queima a insignificante
E última quimera
Gargalhadas escandalosas
E ela sobe a escadaria
Antigos olhos inocentes
Gemidos da mercadoria
Um vazio estridente
O teatro do amor
Barato e descrente
Artisticamente sensual e sujo
Poeticamente tolo
Atuação de espíritos mudos
Lágrimas de vinho
Escorrem sobre ela
Com destino
Aos lábios bêbados
Do iludido
A luxúria veste-se
Com suspiros e ventos noturnos
E tudo dorme
Em êxtase versificado
O poeta morre
Enquanto sua musa
Escreve no céu
Com palavras de fumaça
A sátira pornô
“Do amor à carcaça”.