Sunday, July 30, 2006

A canção de todas as tardes

Me sento no cordão da calçada
Sob o céu nublado
Na companhia do vento frio
E de perguntas mil
Aquela que vem sempre
Ao redor de um mistério que se foi
E sei que está tão longe
Quanto esteve durante os dias
Que pensei ter esquecido
Mas os sonhos continuavam
Sem eu entender
Talvez agora eles permaneçam
Contra minha vontade

Tento escrever algumas linhas
Que eternizem o que morreu e virou pó
A maçã vermelha da inspiração
Entre minhas mãos enrugadas
Apodrece em segundos quando penso
Que lembrar talvez seja o erro

A doença não pode me fazer viver
Há tantos mortos sorrindo pelas ruas
E desejo estar entre eles
Usufruindo a realidade
Sem estar a beira de um buraco
Onde só os vivos caem
Para provar o gosto da insanidade
Tão doce, que não conseguem se lembrar
Que só o amargo pode curar.

Agora...
Olhe para mim...
Olhe para você...
O nublado do céu
Não há perguntas,não há o que ver
Apenas há o que sentir
O vento,o vento frio
Dessa tarde.

Friday, July 21, 2006

Ar e Água

Meus olhos no espelho
As perguntas,além do reflexo
Lembro,na verdade,apenas não esqueço
Não posso afastar por um momento.

Vejo dois mundos
Um feito de ar e outro de água
O pássaro negro contorna a abóboda do céu
O peixe branco está cravado no coração do mar
Nossos iguais anunciam que não haverá glória.

A seriedade que tem conhecimento do fracasso
Estampada no rosto e em cada palavra
E eu sinto não ter o poder
De construir uma ponte que una
Dois universos que um dia se encontraram
Por um desejo que confiou na precipitada crença
De tudo ser como o último raio de um sol que está
Entre as nuvens carregadas da tempestade que se aproxima.

Violinos,logo uma ventania fechou as cortinas
Separando o sonho e a realidade
Que não fazem diferença enquanto vivemos
Sob a ameaça da dor de crer em vão.

Eu olho pra água azul,e enxergo
Horizontes que ignorei com um orgulho que não era meu
Ousei ter certeza de nunca ficar de frente
Para o que fosse desconhecido e condenado
Voando sobre o oceano quase a pedir
Para que o tiro do caçador atinja meu peito
A única forma de cair e acordar
No universo que não me pertence.

Idéias delirantes sempre se esvaem como o sangue
Que se esvairia ao ser morta...
Talvez eu não aprenda a nadar
Nem tu aprendas a voar.

Se esquecermos,se eu deixar de ter crenças
Quem sabe poderemos um dia mais ser gente
Para construirmos uma ponte momentânea
Que mostre aos nossos iguais
A fusão entre o céu e o mar.