Wednesday, August 01, 2007

Última Gota

A essência antiga daquelas manhãs
Volátil como o que havia no olhar
Guardava -a em um frasco quebrado
Para ser naturalmente devolvida aos ares
Que um dia perfumaram as horas
Enquanto olhávamos para o alto
Esperando que a decoração de natal caísse

Porém há algo que não pedi
Que foi ao chão para me cobrar
O valor dos pequenos cristais emprestados
Com os quais eu brincava
Acreditando que seriam meus
Até que suas cores me cansassem
O mundo construído numa paisagem
Sob o nublado de um céu indiferente

Você não aceitava viver sob
A ameaça de uma chuva silenciosa
E resolvia ser a caricatura de um sol absurdo
Até que de repente tons de verde e rosa
Manchavam até os dias tempestuosos
Mesmo sem minha permissão

Enquanto você seguia longe

Decidi esperar pela aurora
Pronta para dizer palavras que jamais seriam ouvidas
A crença inicial de ser apenas uma mentira
Não pôde ser confirmada
O brinquedo havia se tornado
Um erro chamado sentimento

Todo o tempo e mais ainda quando
Via que seus olhos eram os meus
O sangue estava vertendo daquela pedra
Ao ver o ponto final de uma frase sem sentido
Na última página do nosso livro medíocre

Estou sentada aqui e a noite está se passando
Já pedi que os cristais fossem devolvidos
Mas rochas foram arremessadas contra meus olhos
Sinto às vezes como se o frasco ainda existisse e possuísse
Uma última gota para transbordar minha mente
Já tenho a prova de que você
Apagou a luz que vinha dos cristais para mim

Com uma perfeita atuação dedicada
Às sobras de ontem que você mesmo deixou
Agora preciso pagar por sentir em minhas narinas
O vago cheiro do chocolate de avelãs e dos sorrisos
Aproveite que estou aqui sangrando por diversão
Venha me tornar seu público alvo mais uma vez
Elimine essa última gota imaginária que restou.