Saturday, October 21, 2006

Hipnose

Prenda-me...
Amarre meus pulsos
Deixe-me sem água e comida
Açoite-me sempre que anoitecer
Finja não ouvir meus gritos
E deixe o meu sangue escorrer
Apenas irei aprender com um verdadeiro trauma
Que só você pode me fazer sofrer
Ensina-me a não sentir
Dê-me um pouco da sua amargura para beber
Assim poderei odiar e esquecer
Engrosse as minhas vistas
Quero poder não mais ver
O que existe e o que não existe
Quebre as asas daquele pássaro
Que não pára de me levar
Para os lugares e tempos
Que eu não quero mais voltar
Arranque aquele ser doente da minha memória
Torne-me tão forte quanto você
Incapaz de sentir,incapaz de sonhar e viver
Mas capaz de matar
E aos poucos se deixar morrer.

Saturday, October 14, 2006

Lembrando para Esquecer

Esperei tanto tempo
Para ver as gotas metálicas
Dos sonhos julgados impossíveis
Tornarem-se uma escultura real
E agora posso ver
Cada gota cair para cima
Indo além das nuvens rosadas
Encobertas pela glória
De levar a luz do dia

O sangue escorre sobre
Aquela face perfurada
Pensei que a lua pudesse morrer
Com uma simples punhalada
Mas descobri que a dor do ferimento
Sou eu quem sentirei
Suportando o gosto amargo do vento

A terra sobre a qual você nasceu
Não é seca como a que eu piso
E os braços que lhe carregaram
Podem não ter tido o mesmo calor
Daqueles que me embalaram

As estrelas que você viu cair
Não foram as mesmas que eu tentei amparar
Sei que o sol do seu mundo
Se põe no ponto cardeal
Onde o meu costuma nascer

Gotas metálicas,tumores sobre a imagem
Linhas que constróem uma escadaria de gelo
Toda a indiferença prometida não importa
Longe você poderá existir sem medo
Pois aqui estarei tão viva quanto lá morta.

Saturday, October 07, 2006

Encontro Acidental

A cada erro que cometo
Ela sempre vem me cobrar
Com seus braços largos e o colo aveludado
Feitos apenas para encantar
Procurei durante noites de sonhos frios
Nela poder dormir e me refugiar
Por de trás da saia perfumada
Como a muralha de um jardim florido

Quis me tornar uma filha livre
Das quedas impostas pelo caminho
Mas voltei com a velha imagem
Daquele espelho partido
Da torre em que Ela habita no final dos mundos.

E posso ver o erro imperdoável da Natureza
Como a tempestade no mar
O sol no deserto
E as rosas vermelhas
Sobre a mármore negra do túmulo
Vida sobre a morte
Um grito para o surdo
Os olhos fechados de um cego

Minha mão de carne e osso
Tocando um rosto desenhado
Na neblina de uma madrugada quase real
Fui deixando de ouvir e sem querer roubando
O que me foi concebido por acaso

E pelo sol que a manhã trouxe
Para iluminar o céu e sangrar meus olhos
Não conseguirei perdoar jamais
O erro de minha própria Mãe.