Saturday, September 29, 2007

Primavera

Gárgulas vigiam a catedral
Um vulto perfumado se esconde entre colunas
Desejando
a fantasmagórica sensação
De ainda estar vivo
Em silêncio permanece
Diante dos vitrais ao pôr do sol
Lágrimas como lantejoulas
Pregadas em um véu cinzento
Dificultam a mentira

A música alaranjada
Estação que se repetirá
Sem os mesmos frutos vermelhos
Eles apodreceram em forma
De um pesado diadema
Sobre uma fronte condenada a sentir
Pontadas mornas e frias no verão

O arco se ergue diante dos vultos
Como se ignorasse um dia
Na presença de quem percebe
Que a morte confirma a vida
Lantejoulas coloridas caem
E logo volta a ser noite

Os copos se enchem com gritos
E então os olhos descobrem
Que podem abraçar sem ter braços
E sentir o cheiro dos cabelos
Sem terem narinas
As grades não machucam

Os ossos estão mergulhados
No bálsamo alcoólico
Há descobertas sóbrias que são ébrias
O fechar dos olhos ao sorrir
Conhecidos que se desconhecem
Como nos dias passados de anonimato

Rostos unidos e o acariciar dos cílios
Sobre a face de quem agora
Sente a verdade que encobriu
E é apenas um vulto que vive
Sob luzes que emanam
De vidros coloridos

A última badalada do sino
Assusta as gárgulas da catedral
Ela finalmente sai de trás das colunas
E em uma poça d’água tocada pela lua
Ela vê seu rosto como costumava ser
O reflexo desenha suas feições
Tornando-a real novamente

Nasceu uma flor de cerejeira
Solitária e pálida sobre o tecido vivo
A força pulsando na fragilidade de cada pétala
Uma nova alma brotara nela
Guardada por dois dragões de pedra
Ela anda à noite cessando explosões
Com a melodia do vazio.

Tuesday, September 04, 2007

Violetas Trepadeiras

Um gato preto
Entre as violetas
Escuridão passeando
Nas pétalas fúnebres
Da beleza

O sol de gelo
Começa a derreter
Sobre minha cabeça
E vou passando
Enquanto a histeria
Disfarça o drama

Bolhas pelo ar
Passos na lama
E ao meu lado
Sinto o longínquo
Encantamento

Sonhos que são
Da realidade
A mais amarga
Extensão
Travesseiro de agulhas

Figuras em carmim
Adornam a úlcera
Flores de poeira
Tornam o sangue
Envelhecido

Há nas pupilas
Restos de palavras
Sílabas quebradas
Pelo maremoto
Que tentou destruí-las
Completamente

Derramando
O consolo alheio
Por saber que não posso
Correr em sentido
Anti-horário

Deixo que você
Arranque o que puder
Das violetas trepadeiras
Sobre as paredes
Do meu quarto noturno

Traga o gato preto
E deixe-o adormecer
Sobre minha cama
Enquanto você tenta
Beber a tristeza açucarada
Na apatia dos meus lábios.